Anos 80

O que seria de nós se não tivéssemos o Rock anos 80 para lavar nossa alma, purificar o nosso sangue e livrar-nos de todo o mal? Amém Anos 80!!!

Entrevista Fred Nascimento


Legionando: Fred,seja bem vindo ao blog Legionando e antes de começarmos fica aqui meu agradecimento pela sua atenção e carinho.

Fred: Que nada, é um prazer!

Legionando: A música tem caminhos misteriosos. Sempre tem aquelas histórias curiosas de como tudo começou na vida de um músico.Com você foi assim também ? Algum história curiosa em seu início?

F.: Foi bem curioso. Comecei com um cara do Country-Rock-Sertanejo chamado Renato Terra, este disco dele tinha uma canção que foi um sucesso estrondoso chamado "Bem-Te-Vi"um Country maravilhoso, e havia uma faixa chamada "A Divina Dama"ele precisava de uma voz bem aguda e eu estava sentado do lado de fora do estudio conversando com o irmão dele Casinho Terra quando a porta se abriu e ele me chamou para entrar, me passou uma frase de alguns segundos da canção, eu fui lá para a frente do microfone , e mandei de primeira, foi assim.


Legionando: Você começou tocando bateria , depois pulou para o violão e depois para a guitarra. Quais foram as suas influências musicais na época ?

F.: Rock´n Roll basicamente. Fui chamado para uma banda por um carinha do meu colégio, um gordão com um cabelão enorme, seu tipo era daqueles caras das bandas de Los Angeles, Texas, por aí... seu nome era João Bundão, cantava muito, tinha umas letras que falavam de cemitério, e motocicletas, eu amei sua letras e fizemos duas.
Eu amava o Led Zeppelin, e nessa época que comecei, ouvia muito Alice Cooper também. Daqui do Brasil eu amava algumas bandas que o João sempre me levava quando tinham shows, ele comprava os ingressos pra mim porque meu pai era duro e ele queria fazer a minha cabeca me mostrando tudo, então íamos ver O Terço, Os Mutantes, O Peso, que o João Bundão adorava! Fomos em alguns shows históricos como aquele primeiro Hollywood Rock no campo do Botafogo.
Eu era muito novinho, 16 anos, tomei um ácido neste dia e fiquei olhando a lua durante todo o show.

Legionando: Muitos fãs da Legião conhecem sua história mas sempre é bom relembrar que antes da sua importante passagem pelo cenário do Rock dos anos 80 , você já tinha feito trabalhos importantes para seu currículo musical. Comente alguns deles:

F.: Bem, já falei do Renato Terra, que foi o cara que me ensinou todas as manhas e segredos do violão, ele tinha uma pegada James Taylor maravilhosa e me ensinou os truques, também muitos acordes espertos.
Depois disso por estar sempre com ele zanzando  dentro de sua gravadora a Polygram, os carinhas lá de dentro me sacaram e me convidaram a gravar dois compactos simples, daí a Marina Lima gravou um blues meu chamado "Libra", aí vieram os anos 80 com toda força, participei de gravações históricas como "Pro Dia nascer Feliz"do Barão Vermelho, também trabalhei como colaborador do produtor musical Alexandre Agra na TV Globo em 3 programas de grande sucesso: Armação Ilimitada, Programa Legal e TV Pirata.


Legionando: Como foi o seu início no Rock Nacional ? Por onde e como tudo começou?

F.: A gravadora Polygram me mandou ficar em São Paulo trancafiado num hotel durante 3 meses para divulgar meu primeiro compacto, então dei a sorte de nessa mesma época, nesse mesmo momento todos os artistas dos anos 80 estarem neste mesmo hotel, lá conheci muita gente mesmo, naquele tempo era tudo misturado! Era muito legal! Conheci toda a rapaziada da cena New Wave de SP, as danceterias todas, e fiz amizade com um baixista muito legal que o Ezequiel Neves e o Cazuza me apresentaram, o Paulinho, ele tinha uma banda e me levou para assistir um show no meio de uma rua, eram O Ira! o Ultrage a Rigor e a dele, lembro que fiquei eletrizado vendo o Ira!, parecia uma coisa de outro país, sensacional, então conheci todo mundo que se possa imaginar nesta época.


Legionando: Nesta época você tinha o mesmo sentimento de rebeldia quando estava no palco ou era apenas um trabalho como músico?

F.: Acho que sempre fui um rebelde, hoje a gente precisa deixar passar algumas coisinhas por causa da idade. Antigamente você fazia uma banda, fazia as músicas, os arranjos, tinha uma idéia sobre a capa, a arte do teu disco, aí vinha um carinha de uma grande gravadora, gostava da metade das suas idéias, te contratavam e te avisavam que aquilo ali iria ser "um pouco adaptado para o mercado", certas coisas não ficariam muito bem...hoje você faz a coisa do jeito que você quer, você é livre, hoje você tem achance de ser 100% verdadeiro, eu estou curtindo muito essa crise, acho que é a melhor de todos os tempos, estou finalizando meu primeiro disco solo desde meus compactos dos anos 80 que foi quando parei para colaborar com artistas e bandas famosérrimas, perdi tempo demais sendo músico de estúdio, mas retomei minha carreira solo e não me recordo de estar mais feliz em toda minha vida. A rebeldia se foi, não precisamos mais dela.


Legionando: Nós fãs que não tivemos a oportunidade de ver um show da Legião , sentimos através de vídeos toda intensidade que Renato Russo e a Legião Urbana tinham num show ao vivo .Parecia algo mágico o poder que as músicas tinham ( e ainda tem ) sobre as pessoas. Era isso mesmo ? Como foi pra você fazer parte de tudo isso ?

F.: Eu morava com este produtor amigo meu da Globo, o Agra, um dia ele entrou em casa com todos os discos das bandas de Brasilia ele precisava ouví-los para fazer um programa que ele estava produzindo, eu vi a capa do primeiro disco da Legião, sentei no chão lendo todo o encarte e as letras e pirei com aquilo, eu juro, eu lembro que pensei, nossa! como eu queria ter uma coisa assim! Fazer parte de uma coisa assim! Acho que "alguém"me ouviu...
Os anos se passaram e eu estava com uma dupla chamada, Rosa Púrpura com João Paulo Mendonça, fomos gravar o Globo de Ouro e o Renato nos viu. Meu telefone toca e era Sony nossa gravadora, uma divulgadora muito legal da gente tinha trabalhado na E.M.I gravadora da Legião que era muito amiga do Renato , ela me disse que ele havia nos assistido na TV e ficou maravilhado com toda a nossa onda, nossa canção "Chuva de Mel"e tudo mais e que queria nos conhecer, então assim que terminou o Rosa Púrpura ele lembrou de mim imediatamente quando pensou em reformular a banda por causa da saída do Negrete, eu tenho muita honra de ter sido chamado por ele, diretamente por ele, não houve intermediários.
Fiz os primeiros shows da turnê "As Quatro Estações" em Uberaba e Uberlândia, e ali no palco ao lado dele, porque ele sempre caía mais do meu lado para poder ouvir o violão, pude constatar sua magia, ele era um show, mesmo para nós que está vamos ao seu lado, ali.


Legionando: Conta pra gente alguma coisa marcante ou engraçada desta convivência com Renato Russo, Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos.

F.: Lembro e fico rindo sozinho do Renato na época da febre da "Lambada" chegar no estúdio e nos mostrar direitinho os passos daquela dança horrível que ele havia aprendido sozinho treinando no poste da casa dele! Todos nós amigos mais chegados lembramos dele com muito humor, ele era um cara muito, muito engraçado.


Legionando: Fred , eu acredito que ainda se tem muito o que falar atualmente. A violência, toda injustiça e impunidade, políticos desonestos... Porque não vemos as bandas escrevendo sobre isso ou pelo menos não as que chegam na mídia. Existe algum tipo de filtro? Porque os jovens não tem um ídolo como tinham antigamente como: Raul , Cazuza, Renato Russo. Verdadeiros poetas que representavam multidões. O que falta pra isso voltar se é que um dia voltará?

F.: Porque o dinheiro fala mais alto. Antigamente você estava no Baixo- Leblon e derrepente se fazia um silencio, e quando você virava as costas tinha entrado algum artista muito famoso, isso acabou, artista agora é o cara representado por números, o quanto ele vende nestes tempos de internet, o quanto ele aparece na midia, voltou o tempo da mono-cultura, e a rapaziada das antigas tem preguica de ficar falando, escrevendo letras, é o que eu disse antes, não precisamos mais da rebeldia, hoje em dia é feio ser rebelde, rebelde é maluco, tá duro, rebelde hoje em dia tem que pagar colégio de filho adolescente, então é isso, artista agora está no palco mas com a cabeça no gerente do banco dele, e sabe que não estão errados não... Discutir sobre política agora dá briga! Vi durante as eleições presidenciais amigos se ofendendo por divergirem no voto, eu estou cansado, quero mais é contar histórias maravilhosas nas minhas próximas canções.


Legionando: Com o Barão Vermelho e Capital Inicial foram só participações em estúdio ou também em Shows ?

F.: Com o Barão Vermelho acabei participando pela minha amizade com os caras e por eles precisarem de "uma voz de neguinha"como Cazuza chamava meu agúdos. Com o Capital foi uma vida, toquei por 4 anos lá e fiz um disco todo com eles muito importante para a carreira deles que foi o "Rosas e Vinho Tinto"que tive uma participaçào muito grande em toda a feitura do disco, era o primeiro disco deles depois do acústico que era praticamente todo de regravações, por sorte e merecimento ele foi premiado com platina tripla, e tenho muito orgulho disso, de ter tocado com eles, fui para lá por causa de toda a minha história com a Legião.


Legionando: Fred, depois da Legião você embarcou num projeto com a banda Tantra que mais tarde teve Carlos Trilha e Carmem Manfredini nos vocais. Como foi esse experiência com mais um dos Manfredinis e já com o seu velho conhecido Carlos Trilha ?

F.: Realmente foi um projeto muito legal. A Carmem é uma excelente cantora de blues e R&B, um dia a gente fez uma Jam com ela e todos nós curtimos muito, tínhamos acabado de lançar nosso segundo album "A Febre dos Sonhos"e estávamos com uma nova formação na banda, o Trilha e o Lourenço Monteiro que hoje é do Cabeza de Panda no lugar do Marcelo Vig. Pensamos em gravar o disco da Carmem, mas ela não aceitou, preferiu gravar com a gente, então ficou assim, Carmem Manfredini e Tantra. É um disco muito lindo, cheio de Blues e R&B's. Gosto muito deste projeto.
Acho que o Renato ficaria muito orgulhoso deste nosso projeto com sua irmã.


Luz do Dia
Carmem Manfredini e Tantra

O Mundo Perfeito
Tantra


Legionando: Bom , vamos falar um pouco sobre seu trabalho atual. Você me disse que esse trabalho novo tem muito de música Country e Folk. Como está o andamento e quando será lançado ?

F.: São dois projetos: O primeiro é este disco de coisas que fiz na época que abandonei minha carreira solo para me dedicar a de músico, coisa que não sou, definitivamente. Sou um artista, um criador, um cara que inventa, posso até dizer que todo este tempo que estive tocando, gravando fazendo turnês com outros artistas , sempre estive compondo minhas coisas, pensando em mim, só que eu não era o meu foco, e agora sim, então este primeiro são coisas que eu resgatei, coisas que compus na minha adolescência e custo a acreditar que elas estejam tão atuais.

O segundo sim é o que chamo de meu disco sertanejo, onde volto lá atrás nos tempos do Renato Terra, daquela canção, o Bem-Te-Vi. Estou amando começar este disco, quero aproveitar esta onda sertaneja e fazer o meu, porque toco gaita tambem, adoro fazer canções country que falam de viagens , experiencias e pessoas, amores e desilusões.
Mas primeiro preciso lançar este primeiro que é "Curupaco Traiçoeiro", nele tem participações de muitos amigos musicos e parcerias muito legais como Alvin.L, Paula Toller e Fausto Fawcett. Gosto muito deste disco também, em breve estarei na estrada com ele e quem sabe já poderei estar tambem tocando alguma coisa do próximo.

Legionando: É um trabalho independente e é bom tocar neste assunto porque sei que você tem uma opinião bem formada sobre o mercado atual. Pra você , as gravadoras acabaram ? Qual foi o maior erro delas ?

F.: Já falei sobre isto lá no inicio, acho que o maior erro das gravadoras no Brasil foi subjulgar a internet. Como disse antes, acredito que existam ex-presidentes e ex-diretores de gravadora que não sabem sequer ligar um computador, você entra nos sites das arrecadadoras de direitos autorais e nota que são sites já ultrapassados, cafonas, sem informação, sem atualização alguma.


Legionando: Fred , foi um imenso prazer e o Blog estará sempre disponível para divulgar seu trabalho. Um grande músico e vamos deixar aqui o link para seu facebook e twitter ( Agenda se possível ) para a galera ter mais contato com seu trabalho atual! Muito Obrigado .

Fred: Foi um prazer.
Todos os dias acordo e penso na Legião, penso na voz do Renato me chamando, me dando conselhos, sentia ele meu irmão mais velho Hoje agradeço a Deus por ele ter me escolhido e me chamado para ajudá-lo com sua maravilhosa banda.
Adorei todas as perguntas, me deram a oportunidade de expressar minhas opiniões e gostaria de convidar a todos os Legionários e Legionandos que ficassem ligados no meu trabalho, nos meus projetos.
Um forte abraço a todos, muito obrigado e
"Força Sempre".

Fred Nascimento

Um comentário:

  1. PARABÉNS pela bela entrevista... saudades Fred, dos show q vc fez aqui e esteve conosco do fã-clube. Sucesso, Fred e Fábio... Força sempre!

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